Normalmente, quando alguém estuda arquitetura, faz arquitetura. Mas isso não é o suficiente para algumas pessoas. James Ramsey, mais famoso pelos renderings sci-fi da Low Line, um parque subterrâneo que tem chamado a atenção e mexido com a imaginação de milhares de pessoas, é uma dessas pessoas. Um graduado em arquitetura na Universidade de Yale, Ramsey passou a ser um engenheiro de satélites da NASA, antes de voltar para a arquitetura e começar o seu próprio escritório de arquitetura, o Raad Studio . Leia entrevista inteira a seguir.
Para a primeira parte da nossa nova série “Mentes Pertubadoras”, que contará com as pessoas que estão desafiando a Arquitetura, Design e o Urbanismo combinando criatividade, tecnologia e interesse público – decidimos conversar com James Ramsey . Logo percebemos que o seu estilo tem tanto a ver com a ciência como seus outros traços distintivos: a sua paixão pela história de Nova Iorque, sua propensão incomum para inovar, e sua atividade favorita da infância: a caça de fósseis.Em realidade, Ramsey considera a Low Line não uma tecnologia urbana, mas uma arqueologia urbana, um espaço futurista, onde pode-se descobrir e experimentar uma era de história de Nova Iorque, muitas vezes escondida.
Você tem uma bagagem interessante tanto como um arquiteto e um engenheiro de satélite – o que você acha que o seu conhecimento tecnológico oferece como um designer que você não teria de outra forma?
JR: Deixe-me começar por dizer que a Low Line por si só fica na interseção de muitas coisas. Não é apenas um projeto, não é só urbanismo, não é apenas a tecnologia estritamente, ela também incorpora um elemento de arqueologia urbana – em muitos aspectos, a Low Line tem muito a ver com o meu interesse pessoal em estudar a história de Nova York e exploração arqueológica. Certamente abrange um grande número de domínios, esse projeto em particular.
Agora, como a ciência e o fundo tecnológico realmente começam a influenciar o que fazemos?
-Bem, para uma coisa eu estou muito firmemente na categoria de crédulo do futurismo. Você sabe, nós temos uma série de problemas que temos que enfrentar como uma cidade, como uma sociedade, e eu acho que muitas vezes podemos olhar para a tecnologia para começar a resolver alguns desses problemas.
Do ponto de vista do processo de projeto, eu acho que a capacidade de apenas dar um passo atrás, para experimentar um pouco, e começar a aplicar técnicas diferentes em termos da forma que os materiais físicos e elementos realmente agem combinados, a partir de um ponto de vista muito engenhoso e prático, é algo que nós abraçamos como escritório.
Eu gosto do que você disse sobre “Arqueologia Urbana” e seu interesse em história de Nova Iorque. Você sempre foi um fã de história?
JR: Absolutamente. Toda a pesquisa decorre diretamente do meu interesse pessoal em descobrir o passado da cidade de Nova Iorque. Nova Iorque é uma cidade muito voltada para o futuro: estamos sempre tentando maximizar o setor imobiliário, é só derrubar e construir mais coisas, e, como resultado, a superfície da cidade parece … Eu não sei, nós não temos fetiche pelo passado, como outras cidades fazem. Então, eu acho que na superfície você poderia certamente ler Nova Iorque deste jeito, mas na realidade, esta é uma cidade muito antiga, tanto quanto as cidades americanas são, e é realmente uma cidade no topo de uma cidade,camadas e camadas de cidades.Se você começar a saber para onde olhar e começar a descascar suas camadas, Nova Iorque irá surpreender com o quão rica é a sua história e como presentes são suas relíquias construídas.
Isso é estreitamente relacionado com o High Line – uma vez que eles descobriram um pedaço da história e, em seguida, na preservação de sua história o transformou em algo para o futuro também.
JR: Sim, eu acho que bate em outro elemento que estamos olhando. Dado que temos esta história compartilhada que realmente ainda existe (ainda por toda a cidade, mesmo que você nem perceba isso), você pode usar design e tecnologia para realmente ligar o passado e o futuro.
No caso da Low Line é literalmente uma ponte entre o nosso passado coletivo compartilhado e o futuro. Estamos basicamente utilizando a tecnologia como uma ferramenta para viajar no tempo.
Quando você era criança, o que você pretendia fazer quando “crescesse”? Fazer as mesmas coisas que intrigavam você naquela época, intrigam você agora?
JR: Absolutamente. Quando eu era criança – mesmo além de fazer coisas artísticas, como projetar coisas – todos os meus principais interesses voltavam-se para a caça fóssil, paleontologia, arqueologia amadora. Eu continuo a fazer todas essas coisas. E só para classificar e extrapolar um pouco mais amplamente – o sentimento de admiração e mistério que está incorporado no ato de descobrir coisas e explorar coisas, é algo que tentamos e abraçamos em muitos dos nossos trabalhos. Nem sempre é possível, obviamente, mas se você criar uma experiência para as pessoas onde elas estão realmente explorando e descobrindo coisas, interagindo com um espaço ou um objeto dessa forma, eu acho que faz com que seja muito mais rico, experimentalmente.
Eu posso definitivamente ver isso na Low Line – aquela sensação de ir para baixo da terra e explorar coisas …
JR: Sim, quem sabe que ele está lá? Aqui está Delancey Street – a maior, mais ampla rua, a mais movimentada rua de Nova Iorque, e tanto faz qualquer um saber que por baixo está este silencioso e bonito espaço. E há uma tonelada desses espaços por toda a cidade.
Mas este espaço, silencioso e bonito, é óbvio que não em sua opinião não é para esta finalidade – você, digamos”injetaria vida”, certo?
JR: Claro, se muitas pessoas frequentarem, você pode re-injetar vida no espaço. Mas eu acho que um dos nossos objetivos em termos de projeto acertivo é realmente tentar manter algum tipo de sentido da sua qualidade real – o fato de que este é um grande espaço cavernoso que respira, e fazer algo que permita a interação para vivenciar um pouco disso e fomentar as sensações, conforme vão descobrindo-o.
Eu não sabia que você tinha esse interesse na caça por fósseis e paleontologia. Eu teria pensado que você ia dizer que estava interessado no espaço e em ir para o espaço. Você sente que é tão emocionante ir para o subterrâneo como para o espaço?
JR: Eu acho que você pode encontrar a sensação de descoberta em muitos lugares, seja ele olhando para cima ou olhando para baixo. Por exemplo, estamos trabalhando em um hotel agora, mas uma das coisas que estamos tentando implementar no projeto do edifício, que é muito grande, é a sensação de descobrir os espaços O projeto acabará por revelar-se através de surpresas – as portas não marcadas, áreas escondidas, pequenas jóias que você tem que esbarrar e encontrar e descobrir.
É o tipo da idéia de fazer o trabalho de alguém por ele, mas sob a forma de jogo.
JR: Sim, exatamente. Deve ser divertido. Quer dizer, que prazer se você estiver andando através da Grand Central Station, por exemplo, e desconhece que Edifício Campbell está lá, e você virar a esquina e é como “Caramba, olha isso! Isso não é legal? “
E quando você começa a descobrir coisas como essa, isso te leva a pensar no que mais você não descobriu, e dá aos espaços ou objetos ou edifícios, sentido de que há mais para eles. Isso faz com que pareçam infinitamente complexos, mesmo que eles não sejam. Uma descoberta intelectual é dessas coisas que você pode de fato codificar no DNA de uma construção.
Como é o seu processo criativo? De onde é que a sua criatividade vem? Quais são suas inspirações?
JR: Para ser honesto, eu devoro livros, a maioria de não-ficção, seja de história ou arqueologia, história antiga, ciência, astronomia, qualquer que um que seja, eu apenas tento ler o máximo que puder sobre o que eu acho interessante, e a criatividade surge destas influências.
Na verdade, eu sinto como se eu fizesse o meu melhor trabalho quando estou dormindo. Eu vou simplesmente acordar de repente com uma ideia em mente, ou eu vou acordar com uma solução para algo que venho pensando a respeito. Eu acho que quando você está dormindo, o estado alterado permite-lhe explorar caminhos que você não faria normalmente quando acordado.
Como a Low Line começou? Você teve alguma inspiração em particular?
JR: Isso aconteceu aos trancos e barrancos. A ideia de que você pode manipular a luz de certas maneiras era algo que, mais uma vez, ocorreu-me em um sonho, e eu comecei a experimentar com várias técnicas, construindo protótipos com amigos.
Isso foi fora do trabalho?
JR: Isso foi durante a reviravolta econômica de 2008, por isso me deu tempo suficiente para dormir. Às vezes uma desaceleração pode ser uma coisa boa, você pode explorar as coisas que você realmente gosta.
No período em que eu estava experimentando com essas coisas, eu também estava lendo muito sobre “Ye Olde” New York, New Iorque do século 19, e um dos engenheiros que eu estava trabalhando me contou sobre todos os espaços perdidos que ele tinha encontrado quando ele estava trabalhando para a MTA. A Low Line é apenas um de muitos deles, há algo como 13 hectares de espaços invisíveis, e esta ideia realmente me fez pensar, ler, aprofundar-me em arquivos antigos e pesquisando.E então, eu acho que isso se tornou uma confluência de ideias muito natural .
Para combinar esses dois?
JR: Sim, porque a capacidade de realizar esses truques tem tão vastas aplicações. Um dos primeiros que lhe ocorre é – “Ok, eu posso trazer a luz solar em um porão subterrâneo” E eles são todos os tipos de porões de uma forma, esses espaços perdidos, por isso foi um fluxo natural de ideias.
E o projeto em si? Houve uma influência para isso? Porque as representações resultantes têm uma aparência tipo sci-fi.
JR: Eu diria que há três forças em jogo. Primeiro de tudo, há a qualidade do espaço em si, que eu tive a sorte de ver. Uma vez que eu desenvolvi a ideia de que você poderia aplicar esta tecnologia a um espaço e usar isso para crescer as plantas, não houve visual na mente – apenas a teoria. E então partindo daí, eu era realmente capaz de ver o espaço e perceber, você poderia realmente justapor o elemento sci-fi com isso realmente antigo, sujo, escabroso, elemento arqueológico. Então esse é um elemento que forma o projeto.
A outra foi uma solução puramente de engenharia de base. O tipo de teto em forma psicodélico que você vê nas representações é apenas uma expressão de como você pode implantar a luz. E que passou por muitas manifestações.
Eu tive a grande sorte de sentar embaixo do “The Bean”, no Millennium Park de Chicago, e vi o quanto as pessoas estavam gostando da experiência. Que a escultura de Anish Kapoor traduziu muito literalmente para muito do que eu já tinha imaginado, isso realmente esclareceu como isso poderia ser sentido.
Mas o que foi exatamente que aconteceu no “The Bean”?
JR: Quer dizer, isso parece … Há um filme dos anos 80 chamado Flight of the Navigator, foi um filme da Disney sobre a viagem espacial, e tinha esta nave de um estranho metal líquido que estava voando ao redor dos subúrbios – isso era algo que visualmente amarrava muito sobre a forma como as superfícies podem se comportar quando você implanta a tecnologia.
Então, olhando para o The Bean realmente levei essa imagem para casa, porque era uma versão da vida real de que o visual afeta – que era muito influente. Havia algumas versões anteriores da Low Line que pareciam bastante diferentes, células discretas no teto implantando a luz, mas a ideia de que você poderia amarrar tudo junto com uma característica arquitetônica era algo muito fortemente influenciado por esse estranho filme da Disney, esta escultura de Anish Kapour, etc, etc…
Quais foram alguns dos desafios que você enfrentou na tentativa de tornar a Low Line realidade?
JR: Meu parceiro, Dan Barasch, e eu gastamos muita energia apenas tentando acostumar as pessoas à ideia, porque é um campo muito longe deles, é um universo bizarro. A questão é que o Lower East Side é repleto de velhos hippies, descolados, é um bairro de classe operária, e esta é a intenção deste projeto – é uma solução urbana para criar novamente uma rede para reunir a comunidade. Recriar este tipo de solução, de reunificar a comunidade foi emocionante e divertido, mas, naturalmente, um desafio em curso.
Na conferência de Robert Hammond no TED realizado sobre a Highline, ele fala sobre a interação entre as pessoas que fazem o High Line especial. Na HighLine, diz ele, os nova-iorquinos, na verdade, estão de mãos dadas. Que tipo de interação você gostaria de ver acontecer na Low Line?
JR: Eu acho que Robert está descrevendo é um traço que é comum, em grande parte, à existência de espaços públicos; as pessoas se comportam de forma diferente e interagem uns com os outros de forma diferente em espaços públicos em geral. Assim, no caso High Line, é um passeio,mas é uma oportunidade de dar um passeio de forma linear.
A Low Line é obviamente diferente. Ao invés de ter o elemento de união da atividade compartilhada de passear de braço dado, eu espero criar uma experiência onde a atividade ou experiência compartilhada seja aquela em que você esteja em um ambiente que começa a empurrar os seus limites e faz você questionar o que você está acostumado, e começa a ajustá-lo na forma de exploração, ou no modo de descoberta – que pode ser a experiência compartilhada que una as pessoas.
O que acontece se a Low Line seja construída, digamos, daqui a 30 anos, e isso não seja mais inovador?
JR: Isso seria algo. Eu pessoalmente tenho sido abordado pelos prefeitos de outras cidades, não na América, sobre as possibilidades de fazer algo assim. O espectro existente mostra que uma cidade com muito menos obstáculos burocráticos pode acabar fazendo isso primeiro. Eu acho que é realmente uma possibilidade distinta.
E isso pode ser algo bastante normal, mas eu não sei como isso seria. Eu acho que espaços como este, e a experiência única que a Low Line está apresentando, não é tão simples como apenas ser um espaço subterrâneo com árvores nele. Porque você pode colocar luzes em um túnel e deixar crescer uma árvore -, há uma série de centros comerciais no Japão que fazem isso. Isto tem muitas camadas mais, eu acho – é único e especial de uma forma que eu imagino que seria difícil de replicar em outros lugares.
Mas o seu sonho seria para isso ser em Nova Iorque?
JR: Acho que sim. Eu amo Nova Iorque, Eu nasci aqui e, como eu disse, eu tenho estudado a história de Nova Iorque obsessivamente e é incrível. Dito isto, se outra cidade me pediu para fazer isso em outro espaço, eu provavelmente aceitarei, seria um desafio interessante de projeto. Meu amor por Nova Iorque não me impede de fazer algo assim em outro lugar.
Última pergunta: Se você fosse convidado a pzrticipar de um TEDTalk, sobre o que seria?
JR: Pessoalmente, se me pedissem para dar um TEDTalk, eu acho que eu gostaria de dar um passo para trás e não apenas olhar para a ideia interessante de inserção de luz natural em um espaço como esse, mas realmente olhar para ele no contexto mais amplo de o que significa isso no nosso cotidiano, nossa era, para daí avançar.
Nós temos todas essas novas tecnologias em todos os nossos bolsos, podemos descobrir qualquer informação instantaneamente. Eu acho que coletivamente nós perdemos nossa capacidade de ser surpreendido por qualquer coisa, para descobri-las e explorá-las, permitir-se para esse assunto. Eu acho que nós todos sentimos que perdemos essa experiência, uma bela experiência que não temos mais.
Eu acho que muito da ressonância que a Low Line tem encontrado tem a ver com o fato de que é quase emblemático ou representante da ideia de que existe um pouco lá fora que não foi totalmente catalogado e organizado para o nosso acesso fácil . Existem coisas lá fora que não conhecemos e podemos realmente explorar e descobrir de uma maneira nova. Eu acho que vale a pena falar disso.
A série Mentes Pertubadoras é uma parceria com smartwater.